CARAVAGGIO

Morde, morde! Após ausência de luz, Justin continuava sórdido e elegante, como sua avó materna lhe tinha pedido quando da sua entrada para o seminário.

Aos pés da cama tinha uma faustosa caixa de fósforos da qual ia comendo as pequenas cabeças dando um natural e alegre inchaço à barriga. Nascemos com ideias mórbidas, feias, grotescas e magras que só as recordamos quando sentimos os primeiros sinais da vinda à boca de um ou dois dentes do siso.

Não esperes mais tempo, disse-lhe o médico de família, olhando-a ao mesmo tempo que lhe encostava o termómetro aos pequenos seios enrijecidos pela àgua gelada que caía da caleira do telhado.

Levantando a saia, Mary mostrava as pernas, brilhantes, rijas, engraxadas, que tinham sido colocadas depois de um longo sofrimento de dois anos, resultante de uma epidemia de tártaro contraída num coreto dos Jardins de Wisevanthe.

Odiava o cheiro, odiava a música. Entretinha-se pausadamente a encher o pote da cozinha com pequenos pedaços de carne, que depois de cozinhados, eram apetitosamente saboreados por Karin que em longas gargalhadas ia mudando as fraldas do seu primo Berry, com o qual tinha casamento marcado para daí a três dias.               (continua)