CARAVAGGIO

Quando chegou a casa, Mary atirou o saco para a cadeira mais próxima,  ligou a televisão num gesto maquinal e atirou-se para cima do sofá sofregamente, como se o sofá fosse uma tigela de caldo verde como quem não comesse há dias, e quisesse aquecer o corpo, alma e matar a fome de um só trago. Daí a pouco dormia. Passado algum tempo caía do teto uma aranha com fôlego de Bertrand que depois de se deleitar com uma boa sopa de baunilha, atirava patadas de mel sobre os lábios de Kerin. Madrasta, avó que mal sabia da sua hirsuta penugem saindo pelo lençol que amortalhava o seu neto, que no forno, guardava tudo o que Lisbe lhe tinha oferecido como recordação do seu trisavô.

No saco guardava manuscritos da Junta de Freguesia de Maindorf, relacionadas com todas as dividas ao fisco contraídas por Melose aquando do seu casamento com o seu primo Justin, um irlandês naturalizado indiano, que tinha em sua posse uma vasta e riquíssima Metralha.

Saíram juntos em direcção do pantanal, percorrendo caminhos encharcados em chá de tília.

Mary continuava a dormir no safá cheia de fome e sede. Era tão tímida que tinha posto na barriga uma espada com milho rei e alguns nacos de queijo da serra.                                                   (continua)

SÓ FALTAM 3 PONTITOS